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Sexualidades

História

A homossexualidade é definida como a preferência sexual por indivíduos do mesmo sexo. No que toca a este assunto, muitas pessoas têm a ideia pré-concebida que a homossexualidade é, simplesmente, um comportamento anticonvencional que muitas pessoas escolhem expressar. Outros indivíduos acreditam que a homossexualidade é uma das orientações sexuais normais, ou seja, o indivíduo simplesmente é (componente inato), não escolhe. (Tenson, 1989). De fato, para o psicólogo francês Marc Oraison (1977), o homossexual, não força a situação, pelo contrário, as suas fantasias sexuais dirigem-se de forma espontânea para um outro indivíduo do mesmo sexo.

 

O comportamento homossexual remete-se aos primórdios da humanidade, entretanto foi a Grécia Antiga, como local e período, que se tornou marco principal de discussões académicas históricas acerca deste padrão (Bremmer, 1995).

Contudo, a classificação das relações entre os gregos da antiguidade como homossexuais tem sido questionada (Bremmer, 1995 e LeVay, 1996). Isto porque uma série de características diferencia a conduta então observada daquilo que foi chamado de comportamento homossexual na idade moderna (Menezes, 2005).

A ênfase naquela época não era a atração sexual (por homem ou mulher), como ocorre atualmente, mas à valorização da beleza e do autocontrolo – refletido na escolha de locais e momentos apropriados à emissão de determinados padrões sexuais (Foucault, 1984/1994). O termo utilizado naquela época era “pederastia”. A origem desta palavra significa o amor desenvolvido de um adulto por um jovem (Wikipedia, 2007). A pederastia caracterizava-se pelo intercurso sexual entre dois homens, dentro de uma relação de poder, onde o mais velho adquiria a função de tutor, educador, sendo necessariamente o ativo. Por ser uma relação hierárquica, era regida por normas rígidas, inclusive de conquista (Foucault, 1984/1994, Bremmer, 1995).

Naquele contexto, era a pederastia que propiciava acesso ao mundo da elite social (Bremmer, 1995), ou seja, apenas aqueles rapazes que se envolviam sexualmente com homens mais velhos e importantes na sociedade é que obtinham ascensão social. Entretanto, segundo Foucault (1984/1994), ao tornarem-se ambos adultos, os homens deveriam adotar uma postura de philia – ou seja, relação de amizade afetuosa sem intercurso sexual. Práticas passivas realizadas por adultos, eram interpretadas como a perda do papel viril e qualquer conduta efeminada era mal vista pela sociedade (Foucault, 1984/1994).

Durante a Idade Média, especialmente em função das normas impostas pela Igreja Católica (Mott, 1988), o termo utilizado para se referir à cópula entre indivíduos do sexo masculino era a “sodomia”. A origem deste termo estava relacionada à história de Sodoma e Gomorra relatada na bíblia, na qual a presença de homens que se ofereciam sexualmente a outros homens teria sido um dos fatores que teriam levado à destruição divina destas cidades (Wikipedia, 2007). Na cultura judaico-cristã, a homossexualidade é considerada um vício (Aquino, 1225-1274). A Sagrada Escritura não hesita em incluir os homossexuais entre os que não herdarão o Reino de Deus, o que foi de maneira geral interpretado como comportamento pecaminoso e assim, em todo o Ocidente, passou a ser visto como socialmente inaceitável e mesmo sujeito a punições.

Segundo Hekma (1995), com o crescimento das pesquisas no campo da sexualidade, começa-se a investigar a origem de determinadas condutas sexuais desviantes, sendo postulado que a homossexualidade (como muitas outras condutas) origina-se da masturbação e leva à insanidade. O autor destaca, ainda, que neste período a homossexualidade já possuía conotação de desvio, sendo descrito e caracterizado em detalhe.

No começo do século XX, médicos defendiam a não punição do comportamento homossexual alegando que se tratava de uma anomalia, causada por problemas psíquicos, glandulares, ingestão de substâncias químicas e/ou outras questões socio-situacionais. Assim, o processo de categorização da homossexualidade enquanto doença que se iniciou no século XIX, consolidou-se no princípio do século XX (Trevisan, 2002).

Assim tem-se, por exemplo, a postura de Freud sobre a homossexualidade como resultado da relação estabelecida com os pais e, portanto, passível de “cura” através da psicanálise. Especialmente, entre os seus seguidores, nas décadas de 60 e 70, iniciou-se uma série de pesquisas e práticas de “conversão” dos homossexuais em heterossexuais. (LeVay,1996).

Em 1971, a Associação Psiquiátrica Americana (APA) retirou do Manual Diagnóstico e Estatístico o diagnóstico “homossexualismo”, de modo que este deixou de ser considerado uma patologia (Feldman, 2003). Tal adveio do primeiro grande estudo estatístico sobre a homossexualidade realizado pelo zoólogo e sexólogo americano Alfred Kinsey entre 1948 – 1953 e que estabeleceu um marco no estudo do fenómeno com a chamada “Escala Kinsey”. O método empregue pelo pesquisador descarta como premissa a exclusividade da preferência homossexual ou heterossexual e toma a orientação sexual como um comportamento situado num dos extremos de uma “escala" gradativa de possibilidades, que leva em conta fantasias e relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo e entre o sexo oposto. Estas categorias são subdivididas em valores inteiros de zero a seis (o zero indica relações e fantasias exclusivamente heterossexuais, enquanto o seis indica exclusivamente homossexuais) indicando assim uma tentativa de classificação da orientação sexual humana. Na elaboração desta escala foram consideradas as experiências sexuais e as reações psicológicas dos indivíduos em diferentes etapas das suas vidas.

Outro símbolo da mudança de perspetiva nesta época foi o surgimento do termo “homofobia” em 1973, caracterizando condutas de medo e intolerância perante homossexuais (Mott, 1988). Em 1975 a Associação Americana de Psicologia já tinha situado a homossexualidade dentro das orientações sexuais e não entre os distúrbios e doenças psicológicas. O mesmo aconteceu com a Organização Mundial de Saúde (OMS), que também passou a não considerar a homossexualidade como uma doença, a partir de 1986.

No final do século XX e início do século XXI, houve uma tendência ao abandono de terminologias tradicionais e a adoção de novos termos, ou ainda a defesa do abandono de qualquer termo classificatório.

Origem da Homossexualidade

 

Posto isto, urge questionar: todas as pessoas que se desenvolvem em determinadas condições vão ser necessariamente homossexuais?

Não se encontra uma relação de causa e efeito. Ou seja, sob as mesmas condições humanas, as pessoas desenvolvem personalidades distintas, dependendo da sociedade que a rodeia, que a apoia ou recrimina.

Segundo a OMS (2000), ainda que pesem sobre a escolha homossexual sérios condicionamentos preconceituosos, a sexualidade é o resultado da interação de fatores biológicos, psicológicos, socioeconómicos, culturais, éticos e religiosos ou espirituais, ou seja, ser homossexual não é opcional, todavia, manter relacionamentos homossexuais implica sim uma escolha de vida e aceitação.

Deste modo, na área da psicologia, acredita-se que a relação com os pais durante a infância é fulcral no desenvolvimento da orientação sexual na vida adulta. Num estudo, em relatórios de psicanalistas, das relações familiares dos seus pacientes homossexuais masculinos, os pais dos homens homossexuais eram descritos como hostis e distantes e as mães como “mães galinha”, intimas e dominantes (Bieber et al., 1962). Sem ser com amostras de pacientes, Evans (1969), também mostrou um padrão similar de uma mãe chegada e pai afastado e frio.

 Ainda assim, pela literatura existente, parece não existir um fator único que determina que uma pessoa se identifique como heterossexual ou homossexual. A opinião corrente é de que há uma variedade de fatores, desde o período pré-natal, que podem influenciar o desenvolvimento numa direção ou outra.

Em relação à modelagem, investigadores contemporâneos da aprendizagem social acreditam que é o modelo estereótipo de género, mais do que pais do mesmo sexo, que promove o desenvolvimento do género (Bandura, 1986; Bussey & Bandura, 1984; Perry & Bussey, 1979). Assim, não seria de esperar que raparigas adotassem uma identidade lésbica simplesmente pela observação e imitação das suas mães lésbicas. Mas por virtude das suas famílias não serem tradicionais, os filhos e filhas destas mães têm menos ideias e estereótipos rígidos sobre o que é aceitável como comportamentos sexuais masculinos e femininos, e podem estar mais abertos a envolverem-se numa relação homossexual, do que os filhos de famílias heterossexuais.

Consequentemente, através da perspetiva da teoria da aprendizagem social, a orientação sexual das crianças pode ser influenciada por comportamentos da família em que foram criadas, relacionados com a sexualidade. As explicações do desenvolvimento cognitivo na construção do género têm enfatizado que as crianças desenvolvem-se ativamente por si próprias, através do mundo de géneros que as rodeiam, o que significa ser masculino ou feminino, e adotam comportamentos e características que são coerentes com o seu próprio sexo. Novamente, estereótipos de género, mais do que os pais, são vistos como sendo a primeira fonte de informação relacionada com o género.

Já as teorias da construção social partem da premissa que os desejos sexuais não são qualidades sexuais com que um indivíduo nasce ou que sejam sociabilizadas por experiências durante a infância (e.g., Kitzinger, 1987; Simon & Gagnon, 1987; Tiefer, 1987). O que estas abordagens têm de comum é o ênfase que se dá ao papel ativo do indivíduo, guiado pela sua cultura, na estruturação da realidade e criação de significados sexuais para atos particulares. Assim, a identidade sexual é construída durante o percurso da vida. Primeiro o indivíduo toma conhecimento dos cenários culturais de encontros sexuais e depois desenvolve fantasias internas associadas ao despertar sexual (códigos intrapsíquicos) e relações interpessoais para pôr em prática atos sexuais específicos (Gagnon, 1990; Simon & Gagnon, 1987).

Daqui se conclui, portanto, que: 1) A exclusividade do padrão sexual é um produto sociocultural que restringe as múltiplas formas do corpo humano ser estimulado; 2) Fatores genéticos e biológicos afetam o desenvolvimento individual, influenciando as relações sociais e todo o processo de constituição do repertório sexual; 3) Por mais que as experiências iniciais tenham repercussão relevante na vida sexual futura, estas constituem-se apenas como um elo de uma cadeia complexa que envolve fatores sociais e biológicos de forma indissociada.

Assim sendo, ainda não existem estudos científicos suficientes para se determinar a origem da homossexualidade humana.

 

Bibliografia:

- Nunes E., Ramos K. P. (2008). Homossexualidade Humana: Estudos na área da Biologia e da Psicologia. Intellectus – Revista Académica Digital do Grupo Polis Educacional.

- Golombok S., Tasker F. (2007). Será que os pais influenciam a Orientação Sexual dos seus filhos? – Resultados de um Estudo Longitudinal de Fam+ílias Lésbicas. Developmental Psychology. Volume 32, nº1, 3-11.