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O Cérebro das emoções

Quando se fala em cérebro e funcionamento cerebral levantam-se, ainda hoje, uma série de questões que geram dúvidas, mas cujas respostas se encontram disponíveis com o avançar da ciência. Em torno das emoções muitos foram e são, atualmente, teorizados conhecimentos que as expliquem à luz da complexidade cerebral e dos seus enigmas, aparentemente, irresolúveis. Daqui partem conjeturas a respeito da localização hemisférica dos afetos, sendo que o lado direito do cérebro é tido como o “responsável” pela vivência do amor e da capacidade criativa. Eis que necessitam de ser melhor percebidas à luz dos conhecimentos da Neuropsicologia atual.

De fato, o cérebro é composto por dois hemisférios: o direito e o esquerdo, sendo que foi no século IV que se reportam referências a essa descoberta, embora associada a uma diferenciação da inteligência, da responsabilidade do hemisfério esquerdo, e do sentimento, da responsabilidade do hemisfério direito. Já no século XIX novos avanços ocorreram com Franz Gall na sua visão teórica localizacionista das funções cerebrais, tendo elaborado um mapa frenológico localizando os centros das capacidades psíquicas e determinando a criminalidade dos sujeitos através da avaliação da forma da cabeça dos sujeitos. Contudo, esta visão redutora foi descartada com os avanços de Vygotsky e Luria, no século XX, graças ao estudo das lesões cerebrais locais. Ou seja, existe uma diversidade de estruturas do córtex nos grandes hemisférios que fazem parte de um sistema funcional único, sendo essenciais para a realização de determinada atividade psíquica, como seja falar, escrever, ler, fazer cálculos, etc. Ou seja, várias áreas cerebrais trabalham em conjunto para a realização das tarefas cerebrais. Usando a metáfora de uma fábrica, várias linhas de montagem são necessárias para se conseguir o produto final. Com o cérebro idêntica situação tem lugar.

No entanto, o hemisfério esquerdo está mais envolvido no processamento da linguagem e no caráter voluntário das ações, nomeadamente motoras, enquanto que o hemisfério direito é automático, pré-lógico e intuitivo, remetendo mais para o processamento visuo-espacial. Contudo, ambos funcionam em uníssono no processamento de informação sensorial e no mapeamento das respostas, já que ocorre comunicação interhemisférica ao nível do corpo caloso. Isto é, os hemisférios cerebrais apresentam-se como um órgão único em par, cujo funcionamento normal é possível só ante a sua plena interação, descartando todas as hipóteses de dominância de um hemisfério sobre o outro como diferenciador dos indivíduos.

No que toca à vivência do amor, ou genericamente, aos fenómenos psíquicos emotivo-pessoais, é já sabida a não existência de áreas ou hemisférios cerebrais específicos. Por sua vez, não se podem tratar as emoções como uma entidade unitária, dada a sua complexidade. Embora se remeta o hemisfério esquerdo às reações catastróficas e dramáticas, acessos de inquietação, desassosego e medo, isto é, vivências emocionais negativas, e o hemisfério direito para reações de indiferença, falta de consciência dos seus defeitos, incapacidade para o controlo emocional e inclusive euforia, , os resultados científicos obtidos não são consistentes e, atualmente, conta-se com um conhecimento relativamente escasso da emoção enquanto entidade psicológica. Tal deve-se, não só à dificuldade de avaliação de uma entidade abstrata, subjetiva e complexa, como também na “contaminação” das emoções nas funções cognitivas, dificultando a sua análise individualizada.

Sabe-se, portanto, que toda a função cerebral, seja ela o raciocínio, a fala, a linguagem, a perceção, a memória e até as emoções (sejam elas elementares, como o medo e alegria, ou superiores, como a gratidão e a culpa), todas funcionam de forma interligada e universal, necessitando de um funcionamento pleno e completo para o alcance do seu máximo potencial.

 

Clara Conde