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A Educação em Mudança

Tratar da educação, em qualquer tempo ou momento histórico, é um desafio que envolve muita responsabilidade. Desta forma, a crise na educação afeta e é efeito da realidade mundial. Por outras palavras, a descrença na autoridade educacional está ligada à descrença na autoridade política. O desânimo para com o mundo e a falta da responsabilidade são, nitidamente, opostos ao crescimento saudável do indivíduo. 

Já que, o que é apresentado ao jovem o influenciará ao longo da vida, nas suas ações particulares e públicas, a educação deve reconhecer a sua natureza e assim a acolher como uma criatura nova, em processo de formação, num mundo estranho. A postura do professor é sumamente importante, pois ele é o referencial do mundo, modelo de todos os adultos, diante do jovem. Sendo assim, é exigido de um autêntico professor, qualificação, autoridade e sensibilidade.

No entanto, uma sala de aula lotada, barulho dentro e fora da escola, desrespeito dos alunos, acúmulo de turmas em várias escolas, excesso de pressão do ministério, causa frustração e desânimo. A falta de infraestruturas e de condições de trabalho é considerada uma das principais causas de doenças que afetam a educação. São males que atingem o corpo e a mente e retiram, a cada ano, milhares de professores das escolas. Sintomas como depressão, sensação de esgotamento físico e mental, desânimo, são indícios da chamada Síndrome de Burnout, que se carateriza por um desgaste que afeta o interesse e a motivação em trabalhar. Os professores também sentem no corpo as consequências das más condições de trabalho, tais como problemas com a voz, alergias, tendinites, distúrbios do sono, distúrbios sexuais, alterações da atenção e da memória, irritabilidade, agressividade, dores na coluna e de cabeça e problemas cardíacos. De fato, os professores portugueses têm um nível de stress superior à população norte-americana, considerada uma das sociedades mais stressadas - conclui um estudo sobre o esgotamento físico e mental dos docentes portugueses – devendo para tal ter um acompanhamento adequado.

Olhando na perspetiva do adolescente, assinalam-se exigências acrescidas a nível curricular, nomeadamente, no ensino básico, falta de significância dos conteúdos escolares e aplicabilidade prática, planificação de um horário escolar incompatível com a maturidade dos alunos, no que toca a processos de atenção e memória, entre outros.

De fato, o desenvolvimento da atenção voluntária é um processo de aprendizagem que ocorre até aproximadamente os 12 anos de idade. Assim sendo, é importante a criança durante o seu desenvolvimento, receber orientações para treinar e desenvolver a sua atenção seletiva, através da nomeação e ordenação das ações. Porém a sociedade atual encontra-se deficiente de atenção e memória por circunstâncias advindas da modernidade, da correria do quotidiano, da pressa e ansiedade gerada pelos adultos e perpassada para as crianças e jovens, seja em casa ou na escola e, por vezes, pela falta de tempo e paciência em falar e agir com eles dentro do seu ritmo de maturidade. Esse tipo de situação gera ansiedade o que, por sua vez, interfere na atenção. Portanto, é imprescindível o cuidadoso diagnóstico para saber se a falta de atenção é um sintoma fisiológico, ou apenas, um sintoma que o adolescente apresenta de um quadro circunstancial, advindo de distratores internos e, portanto, de cariz psicológico.

Daqui surgem questões como o analfabetismo ou o abandono da escola básica (obrigatória), já ultrapassadas na grande maioria dos países europeus, e que continuam a marcar forte presença em Portugal, sobretudo no interior do país, impondo fortes constrangimentos e vulnerabilidades aos processos de transição para a vida adulta. A necessidade urgente de dinheiro, a doença prolongada ou a gravidez (no caso das raparigas) são, frequentemente, as causas imediatas para o abandono, até porque as escolas não possuem recursos para lidar com estas situações.

No que toca ao ensino secundário é evidente uma certa insatisfação face à escola, justificada pelas poucas opções, os conteúdos desmotivantes ou os professores desmotivados. Entrar na faculdade ou alcançar a profissão desejada são objetivos encarados com incerteza e ceticismo. A lógica da escola, centrada em faltas, notas e testes, não incentiva à autonomia e à reflexão dos alunos.

Seguindo o percurso universitário, trata-se de uma opção bastante facilitada para os jovens cujos pais possuem já títulos académicos, mas continua a ser uma conquista árdua para as classes populares, em que as projeções futuras se sobrepõem a quotidianos de precariedades e privações várias.

Por sua vez, para um número significativo de jovens, o trajeto universitário parece ter sido consideravelmente vazio de sentido e/ou terminou em desilusão, face à incapacidade de obter emprego na área em que estudaram. O insucesso e o abandono no ensino superior são assim, fenómenos que crescem aceleradamente em Portugal, a par com um certo ceticismo face ao valor do diploma universitário no mercado de trabalho e a uma incapacidade de traçar projetos de vida.

A sociedade portuguesa assiste, assim, à emergência de um novo grupo: “os licenciados no desemprego”. Em certas áreas, o recurso às pós-graduações e mestrados surge, não tanto devido à vontade de aprofundar conhecimentos ou se especializar, mas enquanto uma “fuga para a frente”, (mais) uma forma de adiar e preparar o embate com o mercado de trabalho. Tal acontece porque a entrada dos jovens é, hoje, marcada pelo risco e pela instabilidade. O aumento das taxas de desemprego e a generalização dos trabalhos precários e temporários, ambos atingem a máxima expressão na faixa etária dos jovens. Esta nova situação implica um adiamento (por vezes reconfiguração) dos projetos de vida dos jovens, nomeadamente casar, comprar casa e ter filhos.

A um nível de análise mais sociológico, a educação formal deixou, então, de ser vista como garantia e passou a ser entendida como uma ocupação e uma necessidade para enfrentar um mercado de trabalho qualificado e competitivo, em que a oferta de empregos é cada vez mais escassa.

É, pois, tempo de reconhecer que a tão pretendida articulação entre sistemas de ensino e de emprego, questão chave para o desenvolvimento social e económico, implica não apenas uma adequação das ofertas de formação à realidade do mercado de trabalho, mas também um envolvimento e sensibilização, tanto do tecido empresarial como das instituições públicas, no sentido de uma valorização e qualificação dos seus recursos humanos.

Portanto, nesta hera de precariedade, competitividade e mudança, a capacidade de procurar e adaptar-se a novos desafios reveste-se de um valor inestimável. Os jovens desenvolvem, assim, “estratégias de gestão da incerteza”, que podem passar pela criação de empregos e/ou pela formação contínua.

“A própria crise é simplesmente ela, em si, a esperança contra a desesperança” (CANFIELD, 2004, p. 09)

 

Clara Conde